Guilherme Karan se isolou em casa, com
depressão
O ator Guilherme Karan, afastado da
profissão desde 2005, agora está em cadeira de rodas e vive isolado em casa.
Ele sofre da doença Machado-Joseph. Ela é hereditária e, quando ocorre,
necessariamente, um dos genitores da pessoa também tem o problema. Segundo a
chefe da área de genética do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e
pesquisadora da doença há 15 anos, Laura Bannach Jardim, não existe predileção
por sexo e a doença surge, geralmente, na vida adulta. "No sul do Brasil,
50% dos pacientes manifestaram Machado-Joseph por volta dos 34 anos",
disse ela. A doença é degenerativa e ainda não existe tratamento para
interromper a progressão da doença.
Os sintomas no início da doença são
sutis, de acordo com Laura. O quadro inicial é a falta de coordenação dos
movimentos, dificuldade em caminhar e desequilíbrio do eixo corporal. Segundo
Leandro Teles, médico neurologista do hospital Oswaldo Cruz, manifestações
oculares e sensação de insegurança ao descer escadas, também estão entre as
características da doença. "A pessoa se sente como se tivesse bebido algo
alcoólico e perde a segurança para fazer qualquer atividade que exija uma
coordenação, desde as mais simples até as mais exigentes."
A deglutição, por exemplo, é uma das
dificuldades que o paciente de Machado-Joseph enfrenta. "É mais fácil de
engasgar", disse Laura. A fala fica enrolada e sem coordenação e os olhos
podem perder a capacidade de ação conjugada. "Se cada olho se movimenta de
uma forma, a pessoa adquire visão dupla", explicou a neurologista. Em
alguns casos, o doente pode apresentar movimentos involuntários, falta de
sensibilidade no corpo e rigidez parkinsoniana. "Perdem os movimentos
espontâneos do rosto e se tornam mais lentos e tremem", detalhou Teles.
A progressão da Machado-Joseph leva o
paciente para a cadeira de rodas, em 10 ou 15 anos , afirmou Teles. Segundo
pesquisa feita por Laura, no Rio Grande do Sul, onde a expectativa de vida é de
78 anos, passa para 65 anos. De acordo com Teles, quando a doença de manifesta
em uma pessoa mais jovem, os sintomas são mais agressivos e o prognóstico de
vida é de 25 anos.
Diagnóstico
O que mata não é a doença, mas a situação em que o paciente fica, por causa dos
sintomas. "Não conseguem sentar, tem dificuldade para engolir e ficam mais
propensos a infecções", enumerou Laura. Apesar de ainda não existir
tratamento para interromper o curso da doença, os cuidados são fundamentais
para melhorar a qualidade de vida do doente. "A pessoa precisa de uma rede
multidisciplinar de apoio, com fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicólogo e
neurologista", disse ela.
A fisioterapia fortalece os músculos e
acaba desenvolvendo ainda mais a parte não afetada do cérebro, aumentando as
condições físicas do dia a dia. "Além disso, existem algumas medicações
que minimizam os sintomas como diminuir a rigidez e o parkisonismo", disse
Assim que os sintomas forem detectados, o paciente deve se consultar com um
neurologista. "Se ela tiver outras pessoas na família que já sofreram da
doença, o diagnóstico está feito. Se não, tem que fazer o teste genético
através do DNA", explicou Teles.
"Fui diagnosticada aos 25 anos"
Priscila Fonseca, 35 anos, portadora e presidente da ABAHE (Ass. Bras. de
Ataxias Hereditárias e Adquiridas), começou a ter os primeiros sintomas aos 25
anos. O Terra entrevistou a paciente por telefone e a dificuldade na
fala foi uma das primeiras percepções. Ela morava em São Paulo, foi obrigada a
largar emprego e sua vida na capital para morar no interior, em Taubaté, com os
pais. "Meu avô, meu pai e meu tio tiveram. No caso do meu pai a doença
ainda está no começo", disse ela.
"Não conseguia andar em linha
reta, tinha dificuldade para dar os passos, não conseguia mais correr e
dançar", contou a Priscila. Atualmente, ela faz fisioterapia, equoterapia,
fonoaudiologia e massagem. "As terapias servem para adiar, parece que não
tem nenhum ganho, mas ela retarda os sintomas. Sem a fisioterapia, a doença
avança muito mais rápido", explicou. Além disso, Priscila participa de
reuniões da Associação Brasileira de Ataxias Hereditárias e Adquiridas.
Novos Estudos
Laura e a equipe de genética do
Hospital de Clínicas de Porto Alegre estão fazendo um estudo com voluntários
para testar o Lítio, como um neuroprotetor. Ela estuda há 15 anos a doença e o
experimento é o primeiro com um grupo de pacientes. "Teremos uma resposta
no ano que vem. O objetivo é impedir o dano neurológico", disse ela.
De acordo com a chefe da área de
genérica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, outros países também
pesquisam medicamentos para tratamento da Machado-Joseph.
Machado-Joseph
O nome da doença foi colocado em homenagem às duas primeiras famílias que manifestaram
os sintomas nos Estados Unidos. Segundo Laura, existe uma cultura de que a
doença surgiu nos Açores, já que as família Machado e Joseph eram de origem
açoriana. No arquipélago, a incidência da doença é bastante alta, segundo a
médica. "Porém, existem registros de que a doença surgiu na Ásia há 7 mil
anos e depois se espalhou para Europa e outras regiões", acrescentou.
No Brasil, a doença chegou com a
colonização portuguesa e imigração dos açorianos no País. Atualmente, existem
38 tipos de ataxias espinocerebelares - doenças que afetam as funções motoras -
no mundo. A mais comum é a Machado-Joseph, segundo Laura. "Nos EUA, ela
deve corresponder a 30% dos casos de ataxia, no Rio Grande do Sul a 80% dos
casos, e em São Paulo entre 40% e 50%, já que cada região teve uma contribuição
étnica diferente", afirmou a especialista.
Fonte:portal Terra
Doença hereditária do ator Guilherme
Karan atinge nervos
Em entrevista ao jornal carioca
"Extra" publicada ontem, o pai do ator Guilherme Karan, 55, disse que
o filho, diagnosticado com a síndrome de Machado-Joseph, perdeu movimentos e
está deprimido por causa da doença.
Karan está afastado da TV desde 2005,
quando atuou a novela "América", da Globo. O ator também ficou
conhecido por papéis cômicos no programa "TV Pirata", que foi ao ar
entre o fim da década de 1980 e início da de 1990.
A doença de Machado-Joseph é uma forma
de ataxia (disfunção neurológica que prejudica o controle motor) hereditária.
De acordo com a reportagem do "Extra", a mãe e um irmão do ator
também tiveram a síndrome.
Segundo o neurologista José Luiz
Pedroso, da Unifesp, a doença de Machado-Joseph é hereditária dominante, o que
significa que filhos de uma pessoa com o problema têm 50% de risco de
desenvolvê-lo também.
O mal é raro e atinge até duas pessoas
a cada 100 mil habitantes. Entre as 36 ataxias dominantes conhecidas hoje, no
entanto, a Machado-Joseph é a mais comum.
O nome vem de famílias de açorianos em
que a doença foi identificada pela primeira vez, nos anos 1970, nos EUA,
segundo o neurologista Antônio Cézar Galvão, do Hospital 9 de Julho.
O defeito genético leva à degeneração
de regiões do sistema nervoso, como cerebelo, a medula espinhal, o tronco
encefálico e os nervos periféricos, diz Pedroso, que é médico assistente do
ambulatório de neurologia geral e ataxias da Unifesp.
Os primeiros sinais incluem dificuldade
para andar e falar, perda de equilíbrio e visão dupla. A idade em que os
sintomas começam é indicativa da gravidade do mal. Quanto mais cedo, afirma Pedroso,
mais grave.
"Tenho pacientes com 70 anos que
apresentam uma forma muito leve. Há uma forma intermediária, que começa entre
os 40 e os 60 anos e a precoce, com 20, que é a mais grave."
Pedroso explica que quando a doença é
passada do pai ou da mãe para o filho, há uma repetição do gene causador.
Quanto mais repetições, mais cedo e de forma mais grave a doença aparece.
A síndrome em si não leva à morte, mas
o risco aumenta por causa das complicações da perda motora, que deixam a pessoa
suscetível a pneumonia por aspiração de alimentos e infecções.
Não há tratamento que reverta a
degeneração, mas é possível controlar alguns sintomas com remédios,
fisioterapia e fonoaudiologia.
Fonte:Folha/UOL
FONTE: Portal Terra e Folha/UOL